Mensagem

 
 
Na segunda epístola de Paulo aos Coríntios, no capítulo 3, verso 18, 
temos talvez a mais profunda declaração teológica da Escritura, no que 
toca ao maior propósito de Deus com relação à criação da humanidade:
“E todos nós, com o rosto descoberto, contemplando como por espelho a 
Glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua 
própria imagem, como pelo Senhor, O Espírito”.
Percebam que segundo a doutrina elaborada à partir da idéia da “queda do
 homem e da mulher no Éden”, o ser humano que possuía a “Imagem e 
semelhança de Deus”, perdeu essa Imagem.
O supremo propósito da vinda de Jesus ao mundo, foi nos devolver, restaurar essa imagem perdida.
O propósito parte do Pai, passa pelo Filho e chega até nós pelo Espírito Santo.
Todas as demais coisas, quais sejam dons espirituais e até mesmo o 
chamado “Fruto do Espírito”, dependem desse processo gerado pelo 
Espírito Santo no ser humano aberto para a Redenção.
É o ápice da re- criação!
Mas o texto deixa claro que é um processo, e não uma obra instantânea: “Transformados de Glória em Glória”!
Algo incipiente acontece quando a humanidade é alcançada pelos méritos 
da Redenção, mas nada disso termina neste mundo, mas projeta-se para a 
eternidade, estuário de todas as aspirações e manifestações metafísicas 
que se desdobrarão nas eras infindas.
Por enquanto, nossa percepção ainda necessita de representações da 
“coisa em si”, daquele mundo definitivo, e tudo que podemos apreender 
nos vem como reflexos de um espelho.
Isso é apenas o desdobramento daquilo que Paulo já fala em sua primeira 
epístola aos Coríntios no capítulo 13 verso 12, quando afirma que, “por 
enquanto, vemos as coisas como por um espelho (enigma) obscuramente”.
Vamos então, como na escada da revelação de Jacó, subindo de um degrau a outro de Glória.
Todo nosso conhecimento e capacidade para expor, é parcial, e aguardamos
 um estádio de coisas nos quais nossas percepções libertas das 
contingências físicas, possam nos permitir adentrar naquela dimensão a 
qual “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram e nem passou jamais pelo 
coração(entendimento) de homem algum”.
João, pelo mesmo Espírito, revela em sua epístola que: “Já somos filhos 
de Deus, mas, ainda não se manifestou plenamente o que havemos de ser” 
(I João capítulo 3, verso 2).
Sendo o processo de salvação algo infinitamente mais amplo que essa 
idéia de “perdão de pecados e mudança de endereço da terra para o céu”, 
podemos ter certeza, que essa transformação moral e metafísica que nos 
levará por toda a eternidade a mergulhar na compreensão dos infinitos 
atributos e manifestações do ser de Deus, jamais terá fim.
O céu não será o ponto final, mas o arrebatamento apenas marcará o 
inicio de uma nova etapa que seguirá para sempre e sempre – na qual as 
leis que agora nos limitam e os horizontes estreitos que nos confinam às
 dimensões físicas – uma vez ultrapassados, nos permitirá vivenciar 
dimensões de crescimento e compreensões inimagináveis!
Não é à toa, que Tomás de Aquino, o gênio da teologia e da filosofia, 
após escrever coisas tão ousadas e profundas que desafiam nossa 
compreensão, escreveu no fim de sua profícua vida, que, “estava tendo 
experiências místicas de tal ordem, que se sentia incapaz de descrever, e
 que o faziam compreender que tudo que escreveu durante toda sua vida, 
não passavam de palhas ante as grandezas daquelas revelações que estava a
 ter”. 
Não foi o que Paulo tentou nos transmitir quando falou de seu 
"arrebatamento até ao terceiro céu", onde diz que "viu e ouviu coisas às
 quais ao homem não é lícito referir"?
Sejamos pois humildes e nos mantenhamos permanentemente abertos para 
novas compreensões e possibilidades de entendimentos da revelação 
divina.
E jamais esqueçamos que a principal missão e obra do Espírito Santo aqui
 na terra, diz respeito àquilo que o ser humano “é” e não àquilo que 
“tem”.
Ele veio habitar em nós, para nos tornar mais e mais semelhantes a 
Jesus: aquele que foi a Imagem mais perfeita de Deus já existente entre 
nós.
Todas as outras coisas que vemos as Igrejas ensinando as pessoas a 
alcançar, são absolutamente insignificantes diante da grandeza dessa 
excelsa Obra já iniciada e que jamais será plenamente concluída em nós.
Oremos para que possamos compreender essas coisas...
  
Darckson Lira. 
 
 
  
Todo novo convertido e principalmente alguém que tenha responsabilidade 
de ensino em algum espaço religioso, mesmo que não cursasse um seminário
 ou faculdade teológica, deveria ter o cuidado de inteirar-se acerca 
deste assunto, antes de subir em púlpitos para ministrar doutrinas.
Tenho
 percebido nas “Igrejas” (entre aspas porque algumas não passam de 
empresas, onde o objetivo real é lucro financeiro mesmo), doutrinações 
supostamente baseadas em afirmações teológicas – e pregadas como tais – 
que se fossem bem compreendidas em suas origens, jamais seriam impostas 
como mandamentos divinos, mas encaradas como manifestações puramente 
culturais expressas na Bíblia sob a forma de narrativas e histórias.
Hábitos
 e costumes, festas e tantas outras coisas que só tiveram destinação 
para um povo ou região, são propagados e impostos a outros como 
imperativos divinos categóricos!
Dois exemplos bastante claros estão 
na epístola de Paulo aos Coríntios: a primeira quando trata acerca da 
questão do “uso do véu nas Igrejas” em I Coríntios capítulo 11, e a 
outra um costume comum aos povos do oriente que ele expressa no final da
 mesma epístola: “Saudai-vos uns aos outros, com ósculo (beijo) santo”. 
(I Corintios 16:20).
Quanto ao costume do véu (“burca”), que tem uma 
força cultural muito grande na cultura oriental, as pessoas já devem ter
 percebido pelas recentes exposições dos Muçulmanos, que é um hábito 
também deles.
É “indecente” que as mulheres exponham o rosto!
E 
isso não somente em local de culto: no caso dos Muçulmanos, o leitor já 
deve ter percebido o fato de que as mulheres fazem as orações separadas 
dos homens (sequer aparecem). Dai também Paulo (com toda sua herança 
cultural que já havia antes do surgimento do Islamismo) dizer que "se 
quiserem perguntar algo, que não seja na Igreja, mas em casa, ao seu 
próprio marido"! (I Corintios 14:35).
Na Igreja? Silêncio! Não é permitido que mulheres falem.
Vestidos e saias curtas, nem pensar!
Homens
 andam de mãos dadas e trocam beijos (sem nenhuma conotação 
homossexual), mulheres andam passos atrás do marido, não podem sair de 
casa a não ser na companhia de algum membro masculino da família, nada 
de roupas coloridas, nem rir em público ou permitir que estranhos ouçam 
sua voz.
Doutrina? Revelação divina? Nada disso...
Cultura!
Na Escócia, homens usar saiote é sinal de masculinidade; aqui é um traje tipicamente feminino.
Temos
 visto sucessivas vezes, a reação dos japoneses diante das crises, e 
isso revela cultura e valores completamente diferentes dos nossos 
ocidentais, onde prevalece o individualismo e indisciplina.
O bacana é
 que valores e culturas (infelizmente as ruins também, ao menos em nossa
 ótica) com o tempo se transformam em espécie de normas sociais, e se 
refletem na vida de uma sociedade.
Já viram as noticias de países 
onde políticos ou empresários que quando flagrados em corrupção, 
praticam suicídio ou no mínimo nunca mais voltam à vida pública, sendo 
execrados socialmente?
[aqui parei para dar um suspiro...] Ah, Brasil...
Essa
 visão social voltada para o coletivo, que estimula a lealdade, difere 
em muito do “jeitinho”, do levar vantagem em tudo, ou da 
supervalorização do individualismo.
A Bíblia está repleta de costumes
 que são absolutamente estranhos à nossa orientação cultural, como a 
poligamia (ter várias mulheres), votos, símbolos, gestos, interpretação 
de números, festividades que tinham uma significação histórica para eles
 que viveram situações às quais podiam relacioná-las, cumprimentos, 
formas de tratamento e relacionamento. Enfim, uma infinidade de coisas 
que estão naquele maravilhoso livro “judaico”, “oriental”, devem ser de 
modo cuidadoso e sério, criteriosamente estudados, corretamente 
interpretados, compreendidos, a fim de não misturarmos “alhos com 
bugalhos”!
Eu continuo isso depois, porque é muita coisa para pouco espaço e estou cansado.
Penso que já abrimos a possibilidade de um horizonte novo de compreensão.
Bom final de semana!
Darckson Lira.