É patética a forma como a sociedade costuma simplificar do modo mais grosseiro e sob os raciocínios mais fraudulentos, algumas questões da vida.
É normal que as pessoas não muito dadas ao nobre exercício do pensar, decorem, reproduzam ou simplesmente repitam argumentos deste ou daquele segmento social, sem se dar ao árduo trabalho de procurar refletir com sua própria mente e sentir com sua própria alma, buscando sentidos pessoais para a vida e os fatos que as rodeiam.
A sociedade critica facilmente mulheres que casaram com homens mais velhos (especialmente se ricos), políticos que negociam cargos e prostitutas que vendem o corpo.
O âmago da acusação é: não há amor, nem senso de vocação ou idealismo nisso que fazem.
O veredito parece simples: Condenados! Mas por quê?
Eles não têm amor pelo que fazem, eles não são honestos para com suas relações, enfim, eles se vendem por algum interesse.
Mas o que dizer da “prostituição da alma” à qual não há um ser humano que não viva a fazer ou já tenha feito?
Esaú vendeu sua primogenitura por um prato de lentilhas, mas Jacó vendeu sua alma para conseguir o que desejava.
Não quero nem falar sobre Judas, porque até mesmo o grande Abraão “vendeu” Sara a faraó por conveniência, Davi vendeu Urias por Bate-Seba, Elias sua dignidade para salvar a vida, Sansão sua unção por uma aventura com Dalila, e enfim, a lista não parece ter fim.
E eu e vocês? E nós? Será que já nos prostituímos – ainda que só um pouquinho – por interesse ou para auferir alguma vantagem?
Quantas vezes dissemos “sim”, ou demos aquele sorrisinho forçado quando uma circunstância exigiu?
E em quantas situações fingimos agir pacificamente quando no interior ardíamos de raiva?
Quantas as juras de amor fingidas, alianças de amizades traídas, perdão pedido ou dado com dissimulação?
Vejo a toda hora jornalistas se prostituindo ao dar informações como verdadeiras tendo conhecimento de que não são verídicas, ouço de advogados forjando argumentos de defesa falseando a verdade para defender bandidos, empresários, administradores e contadores maquiando relatórios, políticos trocando todos os dias de partidos, policiais descaracterizando crimes e inquéritos, atletas trocando a camisa do time unicamente pela vantagem que o outro clube lhes proporciona, líderes religiosos prostituindo a própria mensagem do evangelho para obter benefícios e auferir lucros maiores...
Cantores e artistas prostituindo a própria alma em busca de fama e popularidade...
Quer dizer: na essência, acreditem, pouca coisa muda - a não ser a gravidade: enquanto uns só vendem o corpo, outros vendem a alma!
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